quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Ao Cair da Noite – Stephen King


Stephen King é considerado por uma boa parcela dos especialistas como um dos maiores escritores de suspense e terror de todos os tempos. A sua produção literária é imensa, já escreveu mais de quarenta romances e cerca de duzentos contos. Ele recebeu a medalha da National Book Foundation pela sua distinta contribuição à literatura norte-americana. A sua prosa possui uma linguagem informal, com poucos floreios, acompanhando a forma de expressão da maioria das pessoas. E isso não diminui em nada a qualidade do seu trabalho literário. King consegue envolver o leitor com as suas histórias, que são repletas de cenas e personagens marcantes, muitas delas já foram adaptadas para o cinema e a televisão. O leitor que é apaixonado pelos gêneros que ele desenvolve, certamente, tem na sua memória lembranças assustadoras e surpreendentes de histórias concebidas por King. E, nesse sentido, o gênio criativo desse autor norte-americano parece não ter limites de espaço e tempo. Há algum tempo, a Rede Globo apresentou a ótima série de televisão “Under the Dome - Prisão Invisível”, que foi baseada em um robusto romance de King. A referida obra foi adaptada e dirigida pelo célebre diretor Steven Spilberg, que é o mesmo diretor dos sucessos de público “Indiana Jones” e “Jurassic Park”.

Acerca da obra “Ao Cair da Noite, pode-se afirmar que é um bom livro, contudo, não chega a ser excepcional. Ele é composto por catorze contos repletos de suspense e terror. O livro é volumoso, tem quase 400 páginas, e precisa de um bom fôlego do leitor para ser lido. As histórias são diversificadas, algumas tem mais qualidade, outras nem tanto assim. Dentre elas, podemos destacar “Willa,” que é a história de um grupo de pessoas que vivem em um ponto de parada de trem e que não sabem que já estão mortos. O conto “A Bicicleta Ergométrica” também é muito interessante. Ele conta a história de um artista que pinta um painel com uma estrada que se torna real e que contém personagens reais e perigosos. E outro conto memorável é o que King batizou de “O Gato dos Infernos”. Nele um homem idoso e milionário convida um matador de aluguel para acabar com a vida um gato muito estranho e perigoso. O livro, como houvera destacado anteriormente, é interessante, mas fica muito abaixo de ser uma obra-prima. Parece que King o fez nas horas vagas, entre um romance e outro e, portanto, não deu uma atenção mais aprofundada ao mesmo, deixando-o em segundo plano. Percebe-se o estilo do autor, observa-se claramente a marca de King, mas nada mais do que isso. Não chega nem perto de obras como “Carrie, A Estranha”, ou “Sonâmbulos” ou mesmo da trama envolvente e genial de “A Espera de um Milagre”. No entanto, ainda assim, aconselho a leitura do livro para quem é apreciador dos gêneros suspense e terror, a fim de que possam tirar as suas próprias conclusões. Afinal, Stephen King é Stephen King.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Pablo Neruda e as Dores do Mundo.


Se existiu um poeta que conseguiu fazer uma radiografia profunda da alma humana, esse poeta se chamou Ricardo Neftali R. Basoalto, mais conhecido pelo pseudônimo de Pablo Neruda (1904-1973). A sua poesia é múltipla, metafórica e enigmática. Não se pode sintetizar a sua obra poética, pois ela possui muitas faces. Em um determinado momento, ela é confessional e sentimental e em outra ocasião ela é descritiva, quase jornalística. Dependia da fase que enfrentava. Ele consegue nos abarcar com os seus versos, abalando-nos os pilares mais recônditos da alma. A sua poética vasculha as nossas lacunas pessoais, os nossos sonhos e as nossas dores. Ele encontra os nossos segredos e os coloca no balcão dos seus versos, expondo-os nas páginas dos seus livros. Em sua obra poética, ele grita as nossas dores em um palco repleto de holofotes e microfones. Segue abaixo alguns versos de sua autoria que explicitam essa intenção:

Inicial

O dia não é hora por hora,
é dor por dor,
o tempo não se dobra,
não se gasta,
mar, diz o mar,
sem trégua,
terra, diz a terra,
o homem espera.
(--------------)

*Extraído do livro “Últimos Poemas”, publicado em 1973.

A Estrela

Bom, eu já não voltei, já não padeço
de não voltar, a decisão da areia
e como parte da onda e da passagem,
a sílaba de sal, o piolho da água,
eu, soberano, escravo desta costa
submeti-me, me encadeei à minha rocha.


Não há vontade para nós que somos
fragmento do assombro,
não tem saída para este retorno
para si mesmo, à pedra de si mesmo,
já não existem mais estrelas que o mar.

*Extraído do livro “Jardim de Inverno”, publicado em 1971.


A poesia de Neruda é quase um hieroglifo quando ele usa o artifício da metáfora. O poeta usa algumas palavras como se fossem mantras poéticos. Mesmo que o tema não tenha qualquer relação com a referida palavra metafórica, ela surge como um trovão nos versos. Podemos tomar como exemplos as palavras mar, sinos e navios, elas aparecem em muitos dos seus versos. Possivelmente, isso é explicado pelo fato de que Neruda morava em uma ilha no litoral do Chile e esses elementos eram muito presentes em sua vida. Contudo, essa pode ser uma interpretação superficial, uma vez que elas desempenham papéis simbólicos na sua poesia. Enfim, podemos considerar que o poeta chileno enxergou um mundo que nenhum poeta houvera conseguido antes dele e expressou-o com muita qualidade, talvez tenha sido esse o motivo de ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Pablo Neruda honrou e glorificou a poesia latino-americana com a sua obra e ela certamente subsistirá por vários séculos, dando um belo testemunho dos valores socioculturais do povo ibero-americano.