sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A Correlação da Boêmia com a Literatura




O dicionário Aurélio explica que boêmia significa vadiagem, pandega, ociosidade. Contudo, essa afirmação está evidentemente incompleta, pois algumas vezes esta atitude tem uma razão, um objetivo concreto. A vida social noturna, promíscua e regada ao álcool serve como inspiração criativa para muitos artistas. Neste caso, a penumbra e as luzes coloridas, a fumaça dos cigarros, os bafos de cervejas, a conversa descompromissada e as mulheres são instrumentos propulsores para a elaboração de um livro, de tal forma que se forem suprimidos tais intelectuais não conseguiriam escrever nenhuma página.

Tal costume existe há vários séculos, mas ficou mais evidente no séc. XIX, com o advento do Romantismo, escola literária que invadiu todo o mundo ocidental. O ápice da boêmia ocorreu justamente com o grupo de escritores românticos adeptos do pensamento "Spleen", aqui no Brasil ele é mais conhecido como "Mal do Século", os quais foram influenciados profundamente pelos textos de Lord Byron e Musset. É uma Literatura impregnada de egocentrismo, negativismo, pessimismo, dúvida, desilusão adolescente e tédio constante. E cujo tema principal foi a fuga da realidade.

Atualmente ainda existe uma corrente que apoia a boêmia intelectual como artifício criativo. No entanto, ela não é tão relevante quanto antes. Mesmo porque abraçar a boêmia é renunciar à vida familiar, ao trabalho, à boa imagem e, consequentemente, ser descriminado como se fosse apenas um vagabundo, como o próprio Aurélio severamente rotulou no início deste texto. Portanto, eu pessoalmente prefiro ficar com afirmação um pouco radical, mas de fato fundamentada e eficaz do escritor pernambucano Raimundo Carrero colocada no seu livro " Os Segredos da Ficção ": " Você não deve beber, não deve fumar, não deve se drogar, pois para escrever você vai precisar de todo o seu cérebro. " 
 

A Pertinência do Manuscrito na Literatura


1. Um Pouco da História do Manuscrito
       
Eis aí um tema importante e ainda pouco abordado no estudo do universo da Literatura. O manuscrito surgiu entrelaçado diretamente com a própria escrita. À princípio, esta servia apenas para enfatizar as questões ligadas à religião, às leis, aos impostos dentre outras necessidades práticas da sociedade. Com o passar dos séculos, o ser humano percebeu que as histórias até então narradas de forma oral e transmitidas de pessoa para pessoa ou de pessoa para um grupo pequeno ouvintes (receptores de uma tribo, de uma vila, ou de qualquer tipo de conglomerado de baixa densidade demográfica) poderiam muito bem serem transformados em material escrito em papel, pedra, couro, madeira, e etc. Foi a partir desse momento que de fato surgiu a literatura, evidentemente ainda rústica e superficial.

Na Idade Antiga ocorreu o primeiro refinamento literário com os intelectuais gregos e romanos. O grego Homero produziu as obras mais importantes do seu tempo: a Ilíada e a Odisseia, as quais permitiram aos historiadores o estudo do período anterior ao séc. VIII a.C., isso feito por meio dos versos poéticos das duas obras. E na literatura romana podemos destacar relevantes manuscritos como, por exemplo, a Eneida do poeta Virgílio.

Na Idade Média, surge o ofício dos copiadores, os quais são personagens importantíssimos na preservação da cultura ocidental. Neste período histórico, a instituição encarregada de preservar toda a produção artística era a Igreja Católica. De tal forma que existiam monastérios dedicados unicamente a guardar a riqueza cultural das civilizações grega e romana. Os monges copistas viviam grande parte da sua vida dentro das bibliotecas eclesiásticas, copiando as obras consagradas a fim de que o acervo da Igreja aumentasse e, por conseguinte, mais pessoas pudessem conhecer tais obras literárias.

Com o advento da Idade Moderna, ocorre uma progressiva democratização da cultura. Surgem as primeiras universidades, as primeiras bibliotecas públicas financiadas pela Igreja e pela aristocracia europeia. E é justamente nesse momento que surge a tipografia a qual acentua ainda mais a expansão do conhecimento humano. Também foi nesse interim que o manuscrito deixa de ser algo preponderante e torna-se apenas a primeira fase na elaboração de uma obra.

E finalmente a Idade Contemporânea profissionaliza o escritor, idolatra-o, e enriquece alguns. Surgem as grandes editoras, as grandes tiragens, as grandes distribuições por diversos países e consequentemente sepultam definitivamente o valor cultural do manuscrito. A influência dessa má conduta é tão grande que o próprio escritor começa a considerar o manuscrito algo marginal, secundário, até mesmo desonroso perante os olhos dos seus leitores e dos estudiosos.

2. Conceito e Opinião:

O manuscrito é a fase onde ocorre a concepção da obra literária, normalmente escrita à mão pelo próprio escritor (apesar de alguns terem se servido de assistentes no passado e até mesmo no presente). Feito à lápis, à caneta esferográfica, à nanquim, até mesmo à hidrocor, dependendo tão somente das preferencias do escritor. É nela que transparece o gênio ou a mediocridade do narrador. Normalmente são utilizados cadernos universitários ou folhas de papel paltado para esse trabalho. É de fato a fase menos dispendiosa financeiramente, contudo também é a fase mais cansativa das três que abaixo destacarei, devido a depender exclusivamente do potencial criativo do autor. Eis abaixo as três fases básicas na elaboração de uma obra literária:
 
1- Produção do Manuscrito;
2- Processo de Digitação do Texto;
3- Processo de Revisão de Texto.

          Julgo que o manuscrito tem uma importância singular, pois é nele que se encontram o contexto social e a personalidade do escritor. Os estudiosos da literatura poderiam à partir dos manuscritos produzirem incontáveis obras ensaísticas nesse campo. Portanto, fica aqui a minha breve explanação sobre esse tão contundente assunto.




O Fluxo da Consciência na Literatura



O artifício, hoje usado com frequência pelos escritores brasileiros, foi inicialmente formulado pelos mestres russos do séc. XIX, (Dostoievsky, Tolstoi, Gogol, Tchecov e etc) consiste em explorar a temática psicológica; mas de modo tão profundo que toda a narrativa gira em torno dela. Contudo, somente no início do séc. XX, com os gênios James Joyce e Proust, é que foi alcançado os subterrâneos da mente. Influenciados pelos avanços Freudianos, chegaram ao auge da saturação desse tema. De tal forma que Joyce elabora a obra máxima da ficção universal e que analisa o comportamento humano em quase todos os aspectos possíveis: Ullises. Livro extenso em número de páginas e em conteúdo o qual é tão importante que até hoje é estudado pelos especialistas.

O fluxo da consciência abriu uma nova perspectiva para a Literatura Universal, o qual é considerado uma das maiores descobertas literárias de todos os tempos. O cérebro tem tantas possibilidades de ser analisado que é um assunto que nunca será completamente explorado, é um labirinto misterioso e fantástico. A ficção psicológica nunca será considerada ultrapassada, pois retrata o que o ser o humano tem de mais íntimo que é a sua alma. A questão é saber usa-la de maneira oportuna e não esbanjá-la com a intenção de vangloriar o escritor. Pois de que adianta abordar a psicologia de um personagem sem um bom motivo? Eis aí a minha dica para os iniciantes na arte das letras: tudo deve ser posto na dose certa.