O dicionário Aurélio explica que boêmia significa vadiagem, pandega, ociosidade. Contudo, essa afirmação está evidentemente incompleta, pois algumas vezes esta atitude tem uma razão, um objetivo concreto. A vida social noturna, promíscua e regada ao álcool serve como inspiração criativa para muitos artistas. Neste caso, a penumbra e as luzes coloridas, a fumaça dos cigarros, os bafos de cervejas, a conversa descompromissada e as mulheres são instrumentos propulsores para a elaboração de um livro, de tal forma que se forem suprimidos tais intelectuais não conseguiriam escrever nenhuma página.
Tal costume existe há vários séculos, mas ficou mais evidente no séc. XIX, com o advento do Romantismo, escola literária que invadiu todo o mundo ocidental. O ápice da boêmia ocorreu justamente com o grupo de escritores românticos adeptos do pensamento "Spleen", aqui no Brasil ele é mais conhecido como "Mal do Século", os quais foram influenciados profundamente pelos textos de Lord Byron e Musset. É uma Literatura impregnada de egocentrismo, negativismo, pessimismo, dúvida, desilusão adolescente e tédio constante. E cujo tema principal foi a fuga da realidade.
Atualmente ainda existe uma corrente que apoia a boêmia intelectual como artifício criativo. No entanto, ela não é tão relevante quanto antes. Mesmo porque abraçar a boêmia é renunciar à vida familiar, ao trabalho, à boa imagem e, consequentemente, ser descriminado como se fosse apenas um vagabundo, como o próprio Aurélio severamente rotulou no início deste texto. Portanto, eu pessoalmente prefiro ficar com afirmação um pouco radical, mas de fato fundamentada e eficaz do escritor pernambucano Raimundo Carrero colocada no seu livro " Os Segredos da Ficção ": " Você não deve beber, não deve fumar, não deve se drogar, pois para escrever você vai precisar de todo o seu cérebro. "
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