quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Em Defesa da Criação da Bolsa-Artista.


Alguns dos bens mais preciosos para um artista são o sossego e a segurança financeira. Ambos são essenciais para que o mesmo aumente a sua produtividade no sentido qualitativo e quantitativo. Na Idade Média e Moderna, existia a figura do mecenas, que era um indivíduo abastardo que apoiava o artista nas suas necessidades materiais. O mecenas recebia em troca o prestígio de apoiar as artes, sinalizando aos seus pares que ele tinha um espírito refinado. Convém ressaltar que o artista muitas vezes morava na propriedade do seu financiador e era protegido por ele. Normalmente, o mecenas era integrante de um dos três grupos mais poderosos da época: a aristocracia, os grandes proprietários de terras e os grandes comerciantes. A boa convivência entre o mecenas e o artista ocorria ao longo de várias décadas, até que se encerrava com a morte de um deles, o que acontecia por causas naturais ou não. O interessante a considerar é que existia uma relação de compromisso e respeito entre as partes.
Atualmente, o cenário é outro bastante distinto, principalmente nos países em desenvolvimento, ou seja, nos países que foram outrora colônias da Europa. A maioria dos artistas estão efetivamente desamparados, vivem à própria sorte e, portanto, não recebem subsídios privados ou públicos para que possam desenvolver o seu trabalho com tranquilidade, o que, por conseguinte, prejudica diretamente a sua produtividade. Logo, na maior parte das vezes, precisam se desdobrar em duas ou três atividades, a fim de que possam ter a sua subsistência. Por outro lado, os subsídios oferecidos pelo Estado são promovidos por meio de editais e são bastantes escassos, o que deixa de lado a maior parte dos artistas. Além disso, o financiamento privado dos artistas quase não existe no Brasil e na América Latina. Dessa forma, o artista é, além de um agente da criatividade, um herói pelo fato de enfrentar cotidianamente um cenário de hostilidade e indiferença. Portanto, é preciso que as iniciativas pública e privada enxerguem o artista como um investimento, tal qual o antigo mecenas enxergava. Ele pode ser um diferencial na divulgação e no fortalecimento de uma marca empresarial ou de uma gestão pública.

Nesse sentido, é necessário que a classe artística brasileira requeira este direito no Congresso Nacional, por meio de um projeto de lei, que é o direito ao financiamento do agente artístico. Unindo-se em todas as suas vertentes (literatura, artes plásticas, dramaturgia, artesanato, arte popular, música e etc) a fim de que seja despertada a política de inclusão dos artistas em bolsas, assim como acontece, por exemplo, com os atletas brasileiros de todas as categorias, que atualmente recebem subsídios financeiros por meio do Bolsa-Atleta, pois, do mesmo modo que os atletas engradecem uma nação, o artista também divulga a cultura de um país, projetando-o no sentido global. Então, é preciso que sejam criados dispositivos para esse fim, tais como um processo seletivo justo e imparcial, exigências no que diz respeito à prestação de contas anual da produtividade do artista, diferenciação do valor do pagamento de acordo com o número de obras concebidas e da experiência artística, estipulação de um piso e de um teto do valor da bolsa e etc. Enfim, o cenário artístico brasileiro pode mudar, evoluir, perdendo, portanto, o seu atual estado de orfandade e amadorismo. E, por conseguinte, com a mudança do tratamento oferecido aos artistas, aprimora-se também o tratamento dado à cultura brasileira.

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