Alguns dos bens
mais preciosos para um artista são o sossego e a segurança
financeira. Ambos são essenciais para que o mesmo aumente a sua
produtividade no sentido qualitativo e quantitativo. Na Idade Média e
Moderna, existia a figura do mecenas, que era um indivíduo abastardo
que apoiava o artista nas suas necessidades materiais. O mecenas
recebia em troca o prestígio de apoiar as artes, sinalizando aos
seus pares que ele tinha um espírito refinado. Convém ressaltar que
o artista muitas vezes morava na propriedade do seu financiador e era
protegido por ele. Normalmente, o mecenas era integrante de um dos
três grupos mais poderosos da época: a aristocracia, os grandes
proprietários de terras e os grandes comerciantes. A boa convivência
entre o mecenas e o artista ocorria ao longo de várias décadas, até
que se encerrava com a morte de um deles, o que acontecia por causas
naturais ou não. O interessante a considerar é que existia uma
relação de compromisso e respeito entre as partes.
Atualmente, o cenário é outro bastante distinto, principalmente
nos países em desenvolvimento, ou seja, nos países que foram
outrora colônias da Europa. A maioria dos artistas estão
efetivamente desamparados, vivem à própria sorte e, portanto, não
recebem subsídios privados ou públicos para que possam desenvolver
o seu trabalho com tranquilidade, o que, por conseguinte, prejudica
diretamente a sua produtividade. Logo, na maior parte das vezes,
precisam se desdobrar em duas ou três atividades, a fim de que
possam ter a sua subsistência. Por outro lado, os subsídios
oferecidos pelo Estado são promovidos por meio de editais e são
bastantes escassos, o que deixa de lado a maior parte dos artistas.
Além disso, o financiamento privado dos artistas quase não existe
no Brasil e na América Latina. Dessa forma, o artista é, além de
um agente da criatividade, um herói pelo fato de enfrentar
cotidianamente um cenário de hostilidade e indiferença. Portanto, é
preciso que as iniciativas pública e privada enxerguem o artista
como um investimento, tal qual o antigo mecenas enxergava. Ele pode
ser um diferencial na divulgação e no fortalecimento de uma marca
empresarial ou de uma gestão pública.
Nesse sentido, é necessário que a classe artística brasileira
requeira este direito no Congresso Nacional, por meio de um projeto
de lei, que é o direito ao financiamento do agente artístico.
Unindo-se em todas as suas vertentes (literatura, artes plásticas,
dramaturgia, artesanato, arte popular, música e etc) a fim de que
seja despertada a política de inclusão dos artistas em bolsas,
assim como acontece, por exemplo, com os atletas brasileiros de todas
as categorias, que atualmente recebem subsídios financeiros por meio
do Bolsa-Atleta, pois, do mesmo modo que os atletas engradecem uma
nação, o artista também divulga a cultura de um país,
projetando-o no sentido global. Então, é preciso que sejam criados
dispositivos para esse fim, tais como um processo seletivo justo e
imparcial, exigências no que diz respeito à prestação de contas
anual da produtividade do artista, diferenciação do valor do
pagamento de acordo com o número de obras concebidas e da
experiência artística, estipulação de um piso e de um teto do
valor da bolsa e etc. Enfim, o cenário artístico brasileiro pode
mudar, evoluir, perdendo, portanto, o seu atual estado de orfandade e
amadorismo. E, por conseguinte, com a mudança do tratamento
oferecido aos artistas, aprimora-se também o tratamento dado à
cultura brasileira.
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